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PEDRA LASCADA

 

Ninguém mais lê poesia

O poeta que ainda quer

ter voz no mundo

tem que embalar o barulho

Escrever pedra lascada

vestida de pedregulho

Já não traduz-se a dor

O sujeito que ainda quer

se achar num verso

tem que esconder-se num orkut

Tocar a bola rasteiro

e abafar do outro o chute

MAREMOTO


Empurrado por um eu mais depressivo
Calo os versos que não me deixam calar
Acomodo-os num soneto dispersivo
E remeto-os cá pro fundo do meu mar

Um profundo em que os eus que me confundem
Não desistem de tentar me recompor
Recompondo-se em ondas que me iludem
E ao quebrarem-se não quebram minha dor

Chegam à praia dos meus próprios pedregulhos
E desfilam aos meus olhos de Narciso
Refletindo meu semblante – minha foto

Depois voltam-se com um aparente orgulho
Me depondo os mesmos versos imprecisos
Decompostos neste falso maremoto

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